segunda-feira, 14 de maio de 2012


Ameaças e Estratégias de Geoconservação

O passado da Terra não é menos importante que o da Humanidade.
Está na hora de aprendermos a conhecê-lo; é uma memória anterior à do homem”.
Adaptação do Artigo 7º da Declaração Internacional
dos Direitos a Memória da Terra

A geologia (...) não é a única ciência da natureza. Nem sequer é a única ciência da Terra, mas é a única que nos conta a história da Terra e da natureza
(Alvarez et al.1992b, in Carneiro et al, 2004)

Algumas pistas como “pegadas” estão entre as mais importantes do legado iconológico a nível mundial. Salienta-se também e de acordo com classificação em 2006, pela UNESCO, do primeiro Geoparque português – Naturtejo (http://www.naturtejo.com/conteudo.php?id=19). Estas e outras heranças revelam a história da Terra, constituindo arquivos que o geólogo aprendeu a decifrar. Alguns destes "documentos" são tão frágeis e de uma raridade tal, que se torna premente protege-los das ameaças externas de forma a perpetuarem a sua história ao longo das gerações.

 Fig 1: Portas de Ródão




Cada ocorrência geológica necessita pois de ser estudada e avaliada quanto ao seu significado, importância patrimonial, conceito e estratégia de desenvolvimento. Se há formações litológicas bem representadas no nosso país, outras são raras ou apresentam características que possuem um nível tal de informação, cujo desaparecimento representa um hiato no conhecimento da geo-história e evolução geológica do nosso planeta em geral, da Europa e da Península Ibérica em particular.

Numa época em que existe uma consciência global de que a herança geológica está dispersa pelas várias regiões do Globo, é necessário que sejam definidos padrões internacionais e de avaliação do Património Geológico (PG) de cada região/País.

A maior parte das ameaças advém, direta ou indiretamente, da atividade humana, que, com os padrões atuais de vida de uma sociedade industrializada, obriga à utilização da geodiversidade e, em alguns casos, à sua destruição.

A geodiversidade é vulnerável perante ameaças bem concretas. Apesar dos geoelementos supostamente apresentarem grande durabilidade e resistência, devido à ideia errada das rochas perdurarem no tempo, tal como surgiram e apresentarem imutabilidades, para o comum cidadão, não deixam de correr riscos e serem vulneráveis no espaço e no tempo. Segundo Brilha (2005), podem enumerar-se algumas ações adversas, a saber:

     1.  Exploração de recursos geológicos;
     2.  Desenvolvimento de obras e estruturas;
     3.  Gestão das bacias hidrográficas;
     4.  Florestação, desflorestação e agricultura;
     5.  Atividades militares;
     6.  Atividades turísticas e recreativas;
     7.  Colheita de amostras para fins não científicos;
     8.  Iliteracia cultural.

Estes tipos de ameaças ao Património Geológico bem reais e inerentes ao desenvolvimento socioeconómico das populações, deverão estar contempladas nos regulamentos dos vários instrumentos de ordenamento e gestão (IOG), como atividades interditas ou condicionadas, mediante parecer vinculativo dos organismos competentes, salvaguardando estes valores.

Considera-se que a geodiversidade pode igualmente ser utilizada em abono do Homem, sendo a mesma, alvo de estratégias de geoconservação devidamente fundamentadas, aplicadas e utilizadas de forma sustentável, como georrecurso. Uma das formas é o geoturismo. Como Brilha (2005) refere: O geoturismo é uma actividade que se baseia na geodiversidade.

Fig 2: Passeio de Geoturismo

 



Ainda segundo Brilha (2005), o geoturismo procura minimizar o impacte ambiental e cultural exercido sobre os locais e populações, que recebem este tipo de turistas. Este caracteriza-se por:
  •  Respeitar os destinos turísticos pela aplicação de estratégias de gestão de modo a evitar modificações nos habitats naturais, no património cultural e paisagístico e na cultura local;
  • Conservar os recursos e minimizar a poluição, o lixo, o consumo energético e o uso de água;
  •  Respeitar a cultura local e tradições;
  •  Promover a qualidade em detrimento de quantidade;

As vantagens deste tipo e turismo relativamente ao tradicional são (Brilha, 2005):

*      Pode complementar a oferta em zonas turísticas;
*      Pode desviar turistas de locais sobrelotados;
*      Não está restrito a variações sazonais tornando-o atrativo ao longo de todo o ano;
*      Não está dependente dos hábitos da fauna;
*      Pode promover o artesanato com motivos ligados à geodiversidade local.

Segundo o Plano Estratégico Nacional de Turismo, o turismo da natureza, que é definido como um dos 10 produtos estratégicos prioritários para promover Portugal, pode potenciar determinadas áreas porque, considera o setor do geoturismo, como um dos que apresenta maior vocação para o desenvolvimento do
turismo, assim como a educação, onde é promovida a divulgação científica, ambiental e cultural, através de percursos, visitas guiadas, identificação dos geossítios e sua proteção, material educativo e variados programas temáticos; apoiando a investigação científica. Este tipo de turismo com grandes potencialidades deverá englobar o conceito de turismo sustentável.

O termo Geoconservação refere-se à conservação do património geológico que deverá passar por medidas concretas e específicas, focadas no tipo de património avaliado. Segundo Sharples (in Brilha, 2005, pag. 51), a geoconservação tem como objetivo a preservação da diversidade natural (ou geodiversidade) de significativos aspectos e processos geológicos (substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo, mantendo a evolução natural (velocidade e intensidade) desses aspectos e processos.”

Foi a 5 de Maio de 2004 que o Conselho de Ministros do Conselho da Europa, adotou a Recomendação Rec(2004)3, sobre a Conservação do Património Geológico e Áreas de Especial Interesse Geológico, dirigida aos governos dos estados membros, constituída em traços gerais por sete pontos (http://www.geopor.pt/progeo/):

1. "identifiquem nos seus territórios áreas de especial interesse, cuja conservação e gestão pode contribuir para a protecção e enriquecimento do PG nacional e europeu; neste contexto, deverão ter em conta organizações existentes e programas de geoconservação em curso;

2. desenvolvam estratégias nacionais para a proteção e gestão de áreas de especial interesse geológico integrando a inventariação, a classificação de locais, a construção de bases de dados, a monitorização das condições dos locais de interesse geológico e a sua gestão turística, de modo a garantir a utilização sustentável destas áreas através de uma correcta e adequada gestão;

3. reforçar os instrumentos legais existentes ou desenvolver novos, de modo a proteger áreas de especial interesse geológico e bens geológicos móveis (colecções museológicas, por ex.) fazendo uso das convenções internacionais implementadas;

4. apoiar a informação e os programas educativos de incentivo à promoção da geoconservação;

5. reforçar a cooperação com organizações internacionais, instituições científicas e ONG no domínio da conservação do Património Geológico;

6. orçamentar recursos financeiros adequados para apoiar as iniciativas propostas;

7. elaborar em 2009, um relatório para o Conselho da Europa, de modo a ser feita uma avaliação europeia sobre o impacto da Recomendação Rec(2004)3."

Este documento recomenda a todos os estados membros que promovam a identificação e proteção do seu Património Geológico.


A Serra de Monchique é apenas um de muitos exemplos existentes de Património Geológico no nosso país. Esta, evidencia dois cumes gémeos de origem vulcânica – a Fóia e a Picota – que atingem 902m e 744m de altitude, respectivamente. É assim considerado um maciço erutivo que emergiu há cerca de 70 milhões de anos dos terrenos do carbónico marinho, existindo na zona de contacto geológico uma orla de metamorfismo com formações rochosas próprias. Os cumes citados – as mais altas elevações do Algarve (e do Sul de Portugal) – são constituídos por sienito, rochas afins do granito. Reconhecem-se aqui duas raras variedades de sienito: foiaíte e monchiquite.

               Fig 3: Fóia – Serra Monchique            
 
  
  Fig  4: Picota – Serra de Monchique   

  
                                   
Fonte: www.google/Fóia e Picota/imagens

Estas formações rochosas podem estar sob risco, devido aos consecutivos incêndios que deflagram todos os anos, pela altura do Verão, nesta zona. Este flagelo é originado pelo descuido na limpeza das matas, pela florestação incorrecta da zona com espécies não nativas e por mão criminosa. Quando não existe vegetação, após um grande incêndio, as rochas e o solo arável estão mais suscetíveis às ações da água, na altura das chuvas e do vento.

Citando o autor australiano Sharles (2000), a Geoconservação não só é fundamental “para a manutenção da biodiversidade mas também porque a geodiversidade, só por si, tem um valor intrínseco, mesmo que não se encontre diretamente associada a qualquer forma de vida”. 




Referências:

BRILHA, J. (2005) Património Geológico e Geoconservação: A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage Editores, Viseu


http://www.geopor.pt/progeo/, consultado em 2012-05-14

segunda-feira, 7 de maio de 2012

(Continuação)
Património geológico e geoconservação: 
definições, conceitos e panorama histórico

A conservação da natureza é uma temática recorrente e muito difundida no mundo pós-moderno. Este assunto ganhou maior evidência na segunda metade do século XX, na sequência de uma série de fatores, dentre os quais destacamos o crescimento e condensação populacional e a deterioração da qualidade de vida dos seres humanos. Em alguns locais, esta deterioração da qualidade ambiental começou a afetar as condições de sobrevivência do homem, evocando a necessidade de alteração dos padrões de ocupação humana e adoção de práticas conservacionistas. Desta forma, a ideia de conservação da natureza traz em si uma perspectiva antropocêntrica, focada na ideia da natureza como fonte de recursos e de qualidade de vida para os seres humanos.
Desde os seus primórdios, a temática da conservação da natureza esteve, na maioria das vezes, focada na conservação da biodiversidade, chegando muitas vezes consideradas como sinónimos. Por outro lado, a conservação do património abiótico esteve sempre à margem desta temática e, somente na década de 70 do século XX, começam a surgir esforços sistemáticos para a inclusão da conservação da geodiversidade nas políticas e iniciativas de conservação da natureza. Este fato deve-se a uma série de fatores, porém o foco profissional da maioria dos geólogos na prospecção, extração e uso dos recursos naturais é a causa principal deste papel menor da geologia na conservação ambiental.

 Jazidas fossilíferas do Paleozóico


A respeito desta discussão sobre a importância da conservação da geodiversidade vs conservação do património natural e do grande destaque alcançado pela conservação da biodiversidade, vale a pena realçar que a geoconservação adotou uma terminologia distinta, colocando-se, de certa forma, à parte desta temática, enquanto que a conservação da biodiversidade não chegou a criar um termo apenas para si, sendo ainda muitas vezes designada como sinónimo de conservação da natureza.

É de salientar que o nível de desenvolvimento tecnológico alcançado pela sociedade atual está altamente dependente da disponibilidade de recursos naturais que, por sua vez, fazem parte da geodiversidade. Desta forma, torna-se claro que a conservação dos elementos da geodiversidade como um todo é uma tarefa inviável, tornando-se necessário um levantamento dos aspectos realmente relevantes e significativos de uma determinada região, sob os pontos de vista científico, pedagógico, turístico, recreativo e da conservação do património natural. Ou seja, para se estabelecer um plano de geoconservação, deve-se definir o que é realmente passível de ser foco de práticas específicas de gestão e conservação. De acordo com Brilha (2005), a geoconservação, em sentido amplo, tem como objetivo a utilização e gestão sustentável de toda a geodiversidade, englobando todo o tipo de recursos geológicos. Segundo Sharples (2002) resume o conceito de geoconservação, desta forma: “A geoconservação tem como objetivo a preservação da diversidade natural (ou Geodiversidade) de significativos aspetos e processos geológicos (substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e de solo, mantendo a evolução natural (velocidade e intensidade) desses aspetos e processos”. Contudo, em sentido restrito, a geoconservação compreende apenas a conservação de certos elementos da geodiversidade, que são dotados de qualquer tipo de valor superlativo que se sobrepõem à média, e que sejam dotadas de valores científico, pedagógico, cultural, turístico ou outros. Tais ocorrências constituem o que se designa normalmente por património geológico.

Portugal é signatário da maior parte da legislação e acordos no âmbito europeu e internacional, relativos à conservação da natureza. Em Maio de 2004, o Conselho da Europa aprovou o primeiro documento dedicado, exclusivamente, à geoconservação. Trata-se pois, da Recomendação Rec(2004)3, adotada pelo Conselho de Ministros do Conselho da Europa relativa à conservação do património Geológico e de áreas de especial interesse geológico.
Nesta sequência, apresenta-se um esquema ilustrativo do papel da geoconservação, dentro da temática da conservação da natureza, considerando a definição proposta por Brilha (op cit).

Esquema ilustrativo do papel da geoconservação dentro da conservação da natureza

Fonte: Brilha (2005)

No final dos anos 80 e início dos anos 90, do século XX, destacam-se alguns fatos marcantes para a consolidação e difusão da geoconservação em nível mundial, os quais são enumerados e descritos a seguir e que, segundo Wimbledon et al. (1999), consistem nos marcos efetivos de implementação e sistematização da geoconservação numa escala global:

·      Criação da “European Working Group for Earth Science Conservation” em 1988, transformada mais tarde, no ano de 1993, em ProGEO - European Association for the Conservation of the Geological Heritage.
·     No ano de 1989, criação da lista global de sítios geológicos – GILGES (Global Indicative List of Geological Sites), um inventário mundial de sítios geológicos, atualmente desativado, criado pela União Internacional das Ciências Geológicas (IUGS – International Union of Geological Sciences).
·         Realização do 1º Simpósio Internacional sobre a Proteção do Património Geológico, no ano de 1991, em Digne, na França. No final desta reunião, foi aprovada a Carta de Digne, conhecida como Declaração Internacional dos Direitos à Memória da Terra, que estabeleceu os princípios e pilares da geoconservação em nível internacional.
·      Realizada em 1993 em Inglaterra, a Conferência de Malvern para a Conservação Geológica e da Paisagem (Malvern Conference on Geological and Landscape Conservation).
·   Realização do 2º Simpósio Internacional sobre a Conservação do Património Geológico, no ano de 1996, em Roma, quando foi criado o Projeto GEOSITES e estabelecido o grupo de trabalho: GGWG – Global Geosites Working Group, da União Internacional das Ciências Geológicas - IUGS, com o objetivo de: 

     a)    elaborar um inventário global e informatizado dos sítios geológicos de interesse global;
    b)   fazer a promoção de uma política de proteção e apoio às ciências geológicas em níveis regional e nacional e,
  c) estabelecer critérios e assessorar as iniciativas regionais e locais para a realização de inventários.

Montanha Huangshan- China

 Fonte: www.google.images

Na sequência destes fatos, no ano 2000, foi criada na Europa a Rede Europeia de Geoparques, cujo objetivo principal é o de cooperar na proteção do património geológico e promover o desenvolvimento sustentável destes territórios (Zouros, 2004). Um geoparque, na sua essência, consiste numa forma de gestão territorial focada na promoção da geoconservação, devendo compreender um conjunto de geossítios de importância particular, em termos de qualidade científica, raridade, apelo estético ou valor educativo. Deve também possuir limites bem definidos e espaço suficiente para promover atividades que contribuam para o desenvolvimento económico da região, assim como, ser gerido por uma estrutura clara e bem definida, organizada de acordo com a legislação nacional do país onde se insere.

Posteriormente, um grupo de especialistas da UNESCO, reunidos em Paris no ano de 2004, criou a rede global de geoparques da UNESCO e estabeleceu um conjunto de critérios para a inserção de membros nesta rede. Em relação aos geoparques da rede europeia, foi estabelecido um acordo de cooperação, para que os geoparques já existentes naquele continente fossem automaticamente integrados na rede global. O conceito de geoparque, em larga implantação em todo o mundo, vem contribuindo para a divulgação da geoconservação na sociedade atual. Este conceito tem favorecido a criação de instrumentos políticos e mecanismos de proteção e conservação do património geológico na legislação de diversos países, bem como vem promovendo ações internacionais de cooperação para a conservação deste património, servindo assim como uma das práticas mais difundidas de geoconservação ao redor do mundo, confirmando o a ideia mundial da conservação da natureza de “pensar globalmente e agir localmente”. Os geoparques alicerçam-se na promoção do desenvolvimento sustentável através da geoconservação.

Uma avaliação das iniciativas ligadas à geoconservação ao redor do mundo revela que a Inglaterra destaca-se como um país pioneiro nesta temática, uma vez que, desde o ano de 1950, com o florescimento dos RIGS (Regionally Important Geological/Geomorphological Sites), iniciou-se neste país um conjunto de ações sistemáticas focadas na inventariação do seu património geológico, com vista à sua conservação. Estas ações passaram também a inspirar outros países em ações semelhantes.

A Austrália também desponta com ações de relevo focadas na conservação de geoformas, desempenhadas pela Comissão Florestal da Tasmânia (Tasmanian Forestry Commission), no decorrer da década de 80, do século XX (Sharples, 2002). Estas ações culminaram com ações governamentais na década seguinte e contribuíram para elevar a importância da geoconservação naquele país, bem como para a sistematização de abordagens teóricas desta temática, com práticas que foram difundidas em todo o mundo. Uma avaliação da literatura específica (Danilovic & Djokic, 2005; Theodossiou-Drandaki, 1999; Brilha, 2005 e Burek & Prosser, 2008) aponta que os países europeus ocupam um papel relevante em relação à geoconservação, visto que, para além da política de geoparques comentada anteriormente, muitos países deste continente contam com recursos legais que, direta ou indiretamente, asseguram a conservação do património geológico ou levantam a necessidade de realização dos inventários nacionais de locais de interesse geológico.
Dentre estes países, destaca-se a Espanha, onde a lei 42/2007 aponta para a necessidade de elaboração do inventário espanhol de lugares de interesse geológico, para o qual foi desenvolvida uma metodologia específica através do Instituto Geológico e Mineiro da Espanha (García-Cortés & Urquí, 2009).

 Geopark Naturtejo

 Fonte: www.google.images

Portugal também se configura como outro país importante nesta temática, dentro do cenário europeu, com uma série de trabalhos científicos focados na geoconservação, alguns deles fruto do único curso de pós-graduação existente a nível mundial, voltado especificamente para a geoconservação e o património geológico, sediado na Universidade do Minho, na cidade de Braga. Foi publicada, em 2008, a nova Lei para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade, onde são apresentadas definições objetivas para geossítio e património geológico, sendo que a conservação destes locais passa a ser apontada como um dos objetivos de manejo das áreas protegidas (Brilha, 2009).

No resto do mundo, destaca-se ainda a Asia Pacific Geoheritage and Geoparks Network (APGGN), onde quatro países, a saber: Irã, Malásia, China e Austrália contam com geoparques inseridos na Rede Global da UNESCO. Dentre estes países, destaca-se a Malásia, que venceu a candidatura para sediar a 4th International UNESCO Conference on Geoparks, no ano de 2010. A China também ocupa um papel importante, uma vez que, com 22 geoparques membros da rede global da UNESCO, configura-se como o país com o maior número de geoparques nesta rede, cujo escritório central está sediado na cidade de Beijing.


Referências:

Brilha, J. (2005) Patrimônio Geológico e Geoconservação: A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage Editores, Viseu

Brilha, J. (2009) Geological Heritage and Geoconservation in Portugal. In: Carvalho, C. N. de & Rodrigues, J. (Eds.): New Challenges with Geotourism- Proceeed ings of the VIII European Geoparks Conference. Idanha- a- Nova Municipality and Geopark Naturtejo da Meseta Meridional. Portugal, p. 31-35.

Burek, C.V. & Prosser, C.D. (2008) The history of geoconservation: an introduction. In: Burek, C.V. & Prosser, C.D. (eds) The history of Geoconservation. The Geological Society, London, Special Publications, 300, 1-5.

Danilovic, Z. & Djokic, N. (2005) Geoheritage in the Republic of Serbia from the aspect of the Geological Lesgislation. In: 2nd Conference on Geoheritage of Serbia. Belgrade- Servia. p. 23- 26.
 
García-Cortés A. & Urquí L. C. (2009) Documento metodológico para la elaboración del inventario Español de lugares de interés geológico (IELIG). Version 11, 12-03-2009. Instituto Geológico y Minero de España . Disponível em: http://www.igme.es/internet/patrimonio/, consultado em 2012-05-02

Pereira, Ricardo (2010), Geoconservação e desenvolvimento sustentável na Chapada Diamantina, Bahia-Brasil 
Theodossiou- Drandaki, I. (1999) The Geoconservation in Greece: legal basis- existing situation. In : Mem. Descr. Carta Geol. D´It. LIV (1999), p 375- 377.

Wimbledon, W. A. P.; Andresen S.; Cleal C. J.; Cowie J. W.; Erikstad, L.; Gonggrijp G. P.; Johansson C. E.; Karis L. O. & Suominen V. (1999) Geologial World Heritage: GEOSITES – a global comparative site inventory to enable prioritsation for conservation. In.: Mem. Descr. Carta Geol. D´It. LIV (1999), p 45-60.






Geodiversidade e seus Valores

 Lauter Big na Jura da Suábia (Deutschland)
Lauter Big na Jura da Suábia
  Fonte: http://www.google.pt/imgres

Segundo Brilha (2005), a aplicação do conceito de geodiversidade é um fato relativamente recente. Gray (2008) aponta que este termo evoluiu a partir da Convenção da Biodiversidade, documento extraído na RIO-92, uma vez que, para muitos geocientistas, existia uma equivalência na diversidade de formas e elementos do meio físico do planeta Terra. Alguns autores (Gray, 2004; Burek & Potter, 2002) sugerem que este conceito surgiu em 1993, por ocasião da Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística e mencionam a definição proposta pela Royal Society for Nature Conservations do Reino Unido como uma das mais completas e elucidativas definições para o termo em questão: “A Geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos, que dão origem às paisagens, rochas, minerais, fósseis e solos, que são o suporte para a vida na Terra.”
Johansson et al. (1999) definem a Geodiversidade como sendo a diversidade de rochas, depósitos, formas de terreno e processos geológicos que formam as paisagens. Esta pode ser considerada como uma expressão de diferentes ambientes geológicos (vulcânicos, glaciares, fluviais, litorais, etc.) e dos diferentes ramos das ciências geológicas, servindo de substrato à biodiversidade.
Dixon et al. (1997) e Eberhard (1997) definem Geodiversidade como a diversidade de elementos geológicos, geomorfológicos e edáficos que evidenciam a história da Terra, sugerindo a inclusão dos processos paleobiológicos ou paleoambientais, bem como os processos geológicos, geomorfológicos que têm lugar na atualidade, dentro do propósito deste conceito.
Com uma proposta integradora, Kozlowski (2004) define a Geodiversidade como a “variedade natural da superfície terrestre, envolvendo os seus aspectos geológicos e geomorfológicos, solos, águas superficiais, bem como todos os demais sistemas resultantes de processos naturais (endógenos e exógenos) ou antrópicos”.
Em 2006, o Serviço Geológico do Brasil – CPRM lançou o “Mapa Geodiversidade Brasil”, em escala 1:2.500.000 (CPRM, 2006), onde define Geodiversidade como sendo: “natureza abiótica (meio físico) constituída por uma variedade de ambientes, fenômenos e processos geológicos que dão origem às paisagens, rochas, minerais, solos, águas, fósseis e outros depósitos superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como valores intrínsecos a cultura, o estético, o económico, o científico, o educativo e o turístico.”
Mais recentemente, Bruschi (2007) define Geodiversidade como: “a diversidade de ambientes geológicos que constitui a base e o substrato para a biodiversidade e os ecossistemas”.
Dentre as definições mais amplamente utilizadas, versando a respeito da geodiversidade, destaca-se a proposta de Sharples (2002) que, num trabalho clássico sobre conceitos e princípios da geoconservação, define este termo como a “gama (ou diversidade) de arranjos, processos e sistemas geológicos (substrato), geomorfológicos (geoformas) e pedológicos, dotados de valores intrínsecos, ecológicos e antropocêntricos”.
Por outro lado, com uma abordagem mais abrangente, Nieto (2001), num trabalho onde faz uma revisão sobre os diversos conceitos existentes para geodiversidade, propõe uma definição mais ampla para o termo, destacando que, a consideração conjunta entre biodiversidade e geodiversidade constitui um primeiro passo para a caracterização completa da diversidade natural e aplicação da filosofia do desenvolvimento sustentável. Desta forma, este autor sugere a seguinte definição: “A Geodiversidade consiste no número e variedade de estruturas (sedimentares, tectónicas, geomorfológicas, hidrogeológicas e petrológicas) e de materiais geológicos (minerais, rochas, fósseis e solos), que constituem o substrato físico e natural de uma região, sobre o qual se assenta a atividade orgânica, incluindo-se a antrópica.”

 Fonte: http://www.google.pt/imgres

Stanley (2004) discute como as diversas manifestações da geodiversidade condicionaram a localização geográfica das cidades ao redor do mundo e um conjunto particular de aspetos culturais na Inglaterra. Erikstad & Bakkestuen (2004) ressaltam que a Geodiversidade desempenha um papel relevante no condicionamento da diversidade de ecossistemas de um determinado local, bem como no regime de aporte de nutrientes, condições hidrológicas, etc. Desta forma, pode-se estabelecer conexões diretas entre a diversidade de um determinado terreno e sua geodiversidade e/ou biodiversidade.
Com respeito à conservação da geodiversidade, Piacente (2003) destaca que, historicamente, a cultura ocidental sempre teve dificuldades em reconhecer que a diversidade, seja ela biodiversidade ou geodiversidade, é uma manifestação distintiva da natureza, de modo que desenvolvemos uma mentalidade de padronização dos meios e processos, substituindo a heterogeneidade pela homogeneização. De acordo com esta autora, apenas nas últimas décadas do século XX, se regista uma reversão nesta tendência. Diante das discussões e definições acima apresentadas, observa-se que, muitas delas, ressaltam o valor funcional da geodiversidade como o substrato físico da biodiversidade e das atividades humanas.

Em relação à discussão que envolve a proposição de valores para a geodiversidade, Sharples (2002) propõe três categorias de valores: intrínseco, patrimonial e ecológico.
Por sua vez, Gray (2004) propõe seis categorias de valores, as quais são apresentadas e pormenorizadas na tabela abaixo

Valores da Geodiversidade, adaptados a partir de Gray(2004)

Fonte: Gray (2004)

                                                                                (cont)
Referências:

Brilha, J. (2005) Patrimônio Geológico e Geoconservação: A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage Editores, Viseu

Bruschi, V. M. (2007) Desarrollo de una metodología para la caracterización, evaluación y gestión de los recursos de la geodiversidad. Tesis Doctoral- Universidad de Cantabria. Santander-España. 263 p.

Dixon, G., Sharples, C., Houshold, I., Pemberton, M., & Eberhard, R. (1997) Conservation Management Guidelines for Geodiversity, (1997). Unpublished Report to the Tasmanian Regional Forest Agreement Environment and Heritage Technical Committee, 70 p.

Gray, M. (2004) Geodiversity: Valuing and Conserving Abiotic Nature. John Wiley and Sons, Chichester – England.

Gray, M. (2008) Geodiversity: the origin and evolution of a paradigm. In: Burek, C.V. & Prosser, C.D. (eds) The history of Geoconservation. The Geological Society, London, Special Publications, 300, p. 31-36.

Piacente S. (2003) Geodiversity and geosites: the value of "Locus". in Proceedings of the Workshop Geomorphological Sites: Assessment and mapping. V. Panizza (Ed), Dipartamento di Scienze della Terra, Università degli Studi di Cagliari, Itália, 82 p.


Nieto L.M. (2001) Geodiversidad: propuesta de una definición integradora. Boletín Geológico y Minero- España , Vol. 112, Nº 2, p. 3-12.

Stanley M. (2004) Geodiversity - linking people, landscapes and their culture. In: Natural and Cultural Landscapes - The Geological Foundation, M.A. Parkes (Ed.), Royal Irish Academy, Dublin, Ireland, p. 47-52.

Serviço Geológico do Brasil- CPRM & Companhia Baiana de Pesquisa Mineral- CBPM (2003) Sistema de Informações Geográficas: Geologia e Recursos Minerais do Estado da Bahia. Mapas nas escalas 1:1.000.000 e 1:2.000.000. Edição atualizada e ampliada, Maio/2003. Salvador/BA- Brasil.







quinta-feira, 19 de abril de 2012

TEMÁTICA Nº2 - Ameaças à Biodiversidade

É importante lembrar que todos os seres, incluindo os humanos, estabelecem uma relação de interdependência uns com os outros, como se de uma cadeia alimentar se tratasse. Desta forma, à medida que destruímos a biodiversidade, colocamos em risco a nossa própria existência. Entre as principais causas da perda de biodiversidade estão, a saber:
       
          - Destruição e diminuição dos habitats naturais;
- Desflorestação;
- Introdução de espécies exóticas e invasoras;
- Exploração excessiva de espécies animais e vegetais;
- Caça e pesca sem critérios;
- Degradação de riquezas naturais;
- Tráfico da fauna e flora silvestres;
- Poluição do solo, água e atmosfera;
- Ampliação desordenada das fronteiras agropecuárias dentro de áreas nativas;
- Mudanças climáticas e aquecimento global.

Todos estes fatores, são uma ameaça à biodiversidade. Como consequência dessa perda, as populações humanas sofrerão uma queda significativa da qualidade de vida, que se refletirá diretamente no suprimento de alimentos bem como na manutenção da saúde, na vulnerabilidade a desastres naturais, na redução e restrição do uso de energia, na diminuição da oferta e distribuição irregular de água potável, no aumento de doenças e epidemias, na instabilidade social, política e económica, entre outros.

Da Convenção realizada no Brasil em 2006, - Oitava Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, foi extraído um relatório alarmante sobre a destruição da biodiversidade no Planeta. Entre os dados que constam do documento estão, por exemplo, o de que, só entre 1970 e 2000 caiu em 40% a diversidade de espécies animais. A perda anual de florestas na década atual tem sido de 6 milhões de hectares (o equivalente a cerca de 8 milhões de campos de futebol). O documento também chama a atenção para o aumento da intensidade e da variedade das ameaças à biodiversidade causadas pela ação humana, destacando a introdução de espécies invasoras em ecossistemas alheios por meio de navios turísticos ou de carga, causando disfunções na cadeia alimentar, sem falar no aumento desregulado do consumo. 

No sentido de minimizar este problema, o documento propõe medidas como por exemplo, a criação de programas nacionais de proteção ao meio ambiente. Nesse ponto, o estudo indica que há avanços significativos por parte de praticamente todos os países signatários. O Brasil está na vanguarda: tem uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo. O problema está no cumprimento dessas leis, o que toca no segundo ponto importante proposto pelo documento da CDB: investir em pessoal e estrutura para a proteção da biodiversidade. O mesmo documento da CDB, também indica a importância de inserir o cuidado com o meio ambiente na agenda do empresariado, principalmente nas áreas da alimentação e energia, ramos dos quais mais contribuem para o aquecimento global.

Observadas as recentes mudanças no clima, (especialmente as temperaturas mais quentes) estas já tiveram impactes significativos na biodiversidade e nos ecossistemas, incluindo alterações na distribuição das espécies, tamanhos populacionais, alteração do tempo de reprodução ou eventos de migração, bem como um aumento na frequência dos surtos de pragas e doenças. Muitos recifes de coral sofreram danos irreversíveis em episódios em que as temperaturas da superfície do mar local, aumentaram durante um mês cerca de 0,5-1 ˚ Celsius acima da média dos meses mais quentes. Calcula-se que até ao final do século XXI, as mudanças climáticas e os seus impactes possam ser a causa direta da perda da biodiversidade e das alterações nos serviços dos ecossistemas em todo o mundo.
 Fonte: www.google/imagens

Os cenários desenvolvidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, projetam um aumento na temperatura média da superfície global de 2,0-6,4 ˚ Celsius acima dos níveis pré-industriais até 2100, com consequências para o aumento da incidência de enchentes e secas, e um aumento do nível do mar de um adicional de 8-88 centímetros entre 1990 e 2100. Segundo MA, o impacte sobre a biodiversidade vai crescer em todo o mundo com ambas as taxas crescentes de mudança no clima e aumentar a variação absoluta climáticas. O balanço das evidências científicas sugere que, haverá um impacte líquido significativamente prejudicial nos serviços dos ecossistemas em todo o mundo se a temperatura média da superfície global aumentar mais de 2 ˚ Celsius acima dos níveis pré-industriais ou em taxas maiores do que 0,2 ˚ C por década.

Espera-se, que a mudança climática continue a afetar negativamente os desafios fundamentais para o desenvolvimento, incluindo o fornecimento de água potável, serviços de energia e alimentos, bem como um ambiente saudável de conservação dos sistemas ecológicos e da sua biodiversidade, associados a bens e serviços ecológicos.

As mudanças projetadas no clima para o século XXI são muito provavelmente sem precedentes durante pelo menos os últimos 10.000 anos e, combinado com a mudança do uso da terra e a disseminação de espécies exóticas ou estranhas, são suscetíveis de limitar tanto a capacidade das espécies para migrar como a capacidade delas persistirem nos seus habitats destruídos.

Defender a biodiversidade é pois, lutar pela nossa sobrevivência e das gerações futuras. Existem pois, três razões principais que justificam a preocupação com a conservação da diversidade biológica, a saber:
  • A primeira, porque se acredita que a diversidade biológica seja uma das propriedades fundamentais da natureza, responsável pelo equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas;
  • A segunda, porque a diversidade biológica representa um imenso potencial de uso económico, especialmente pela biotecnologia;
  • Em terceiro lugar, porque se acredita que a diversidade biológica se esteja a deteriorar, devido ao aumento da taxa de extinção das espécies resultante do impacto das atividades antrópicas.
A manutenção da diversidade biológica, é portanto essencial para a qualidade de vida no planeta terra, podendo este ser fator limitante! É hora de repensar a nossa posição como espécie dominante do Planeta e dar uma nova orientação à ciência e à tecnologia na procura de soluções que garantam um futuro sustentável dos ecossistemas.

 
Interações associadas à super-exploração dos recursos naturais



Fonte: Millennium Ecosystem Assessment (2005); What are the current trends and drivers of biodiversity change and their trends, pp. 48


Referências:
Millennium Ecosystem Assessment (2005); Causes of Biodiversity change, pp. 8-10, consultado em 2012-04-16

Millennium Ecosystem Assessment (2005); What are the current trends and drivers of biodiversity change and their trends, pp. 42-59, consultado em 2012-04-16