O VALOR DA BIODIVERSIDADE – 2ª TEMÁTICA
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Quando falamos de biodiversidade, coloca-se a questão que é a de sabermos exatamente o que estamos a valorizar.
Muitas vezes, quando se fala de avaliação da biodiversidade o que de facto se está a considerar é a avaliação de serviços ambientais que estão associados à preservação dos recursos biológicos. Este facto deriva não tanto da não consciência da diferença entre estas duas realidades, mas sim da maior dificuldade de formalização e quantificação que o primeiro tipo de abordagem encerra. Deste modo, deparamo‑nos frequentemente com estudos que procuram avaliar, numa área específica reconhecida pela sua diversidade biológica, o impacto de diferentes tipos de intervenção nos serviços daí decorrentes.
O Millennium Ecosystem Assessment (MA) fez uma avaliação mundial das consequências das alterações nos ecossistemas para o bem-estar humano e identificou as ações necessárias para melhorar a gestão dos ecossistemas (MA, 2005). O MA demonstrou também, que nos últimos 50 anos os humanos modificaram os ecossistemas mais rápida e extensivamente que em qualquer outro período da história humana. Estas alterações foram feitas no sentido de responder ao crescimento rápido da procura de alimento, água, madeira, e combustível, induzido pelo crescimento demográfico e económico. Os ganhos de produtividade obtidos nos serviços de produção dos ecossistemas trouxeram benefícios importantes ao bem-estar da maioria da população humana, mas foram feitos à custa da perda de biodiversidade e da degradação dos serviços de suporte e de regulação dos ecossistemas, tais como a regulação do clima e a regulação da qualidade da água, pondo em causa a sustentabilidade a médio prazo dos ganhos realizados.
Estudos têm sido elaborados, com vista à atribuição de um valor económico, social, cultural e ético da biodiversidade, sendo que esta técnica poderá contribuir como suporte para as políticas através da quantificação do valor económico associado à proteção dos recursos naturais (M. Christie et al. 2006).
“economic valuation of biodiversity and biological resources is an important tool for well-targeted and calibrated economic incentive measures (…) take into account economic, social, cultural and ethical valuation in the development of relevant incentive measures”
Um paradigma de valor, conhecido como o conceito utilitário (antropocêntrico), baseia-se no princípio da satisfação humana preferencial (bem-estar). Neste caso, os ecossistemas e os serviços que fornecem têm valor para as sociedades humanas porque as pessoas, direta ou indiretamente, tiram proveito do seu uso. Dentro deste conceito utilitário de valor, as pessoas também dão valor aos serviços dos ecossistemas que não usam. Os valores de não uso, geralmente conhecidos como valores de existência, envolvem os casos em que o homem atribui valor a saber que um recurso existe, mesmo que ele nunca venha a utilizar esse recurso diretamente. Estes recursos envolvem valores históricos, nacionais, éticos, religiosos e espirituais profundamente enraizados que as pessoas atribuem aos ecossistemas -- os valores que a Avaliação do Milénio dos Ecossistemas (AM), reconhece como serviços culturais dos ecossistemas. Além do papel importante da biodiversidade no fornecimento dos serviços dos ecossistemas, a diversidade de espécies vivas tem um valor intrínseco independentemente de qualquer interesse humano prático.
Sendo o assunto a biodiversidade, vem-nos à mente a reação de Mozart frente ao imperador Josef II que lhe disse que a sua sonata tinha notas demais. Mozart prontamente respondeu que ela continha “exatamente o número necessário”. Independentemente da sua valorização a extinção de quaisquer espécies pode tornar a sonata da vida menos harmoniosa.
Referências:
Christie, M. and Hanley, N. and Wright, R.E. (2006) Valuing the diversity of biodiversity. Disponível em: http://www.moodle.univ-ab.pt/moodle/course/view.php?id=66651. pp. 2-14
Millennium Ecosystem Assessment (2005) Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, disponível em: http://www.maweb.org/documents/document.354.aspx.pdf.
Sousa, Jorge Pereira, Valoração da Biodiversidade, Depto Economia da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, disponível em www.ipsa.org.br, pp. 4-4, consultado a 2012-03-30
Sousa, Jorge Pereira, Valoração da Biodiversidade, Depto Economia da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, disponível em www.ipsa.org.br, pp. 4-4, consultado a 2012-03-30