segunda-feira, 7 de maio de 2012



Geodiversidade e seus Valores

 Lauter Big na Jura da Suábia (Deutschland)
Lauter Big na Jura da Suábia
  Fonte: http://www.google.pt/imgres

Segundo Brilha (2005), a aplicação do conceito de geodiversidade é um fato relativamente recente. Gray (2008) aponta que este termo evoluiu a partir da Convenção da Biodiversidade, documento extraído na RIO-92, uma vez que, para muitos geocientistas, existia uma equivalência na diversidade de formas e elementos do meio físico do planeta Terra. Alguns autores (Gray, 2004; Burek & Potter, 2002) sugerem que este conceito surgiu em 1993, por ocasião da Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística e mencionam a definição proposta pela Royal Society for Nature Conservations do Reino Unido como uma das mais completas e elucidativas definições para o termo em questão: “A Geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos, que dão origem às paisagens, rochas, minerais, fósseis e solos, que são o suporte para a vida na Terra.”
Johansson et al. (1999) definem a Geodiversidade como sendo a diversidade de rochas, depósitos, formas de terreno e processos geológicos que formam as paisagens. Esta pode ser considerada como uma expressão de diferentes ambientes geológicos (vulcânicos, glaciares, fluviais, litorais, etc.) e dos diferentes ramos das ciências geológicas, servindo de substrato à biodiversidade.
Dixon et al. (1997) e Eberhard (1997) definem Geodiversidade como a diversidade de elementos geológicos, geomorfológicos e edáficos que evidenciam a história da Terra, sugerindo a inclusão dos processos paleobiológicos ou paleoambientais, bem como os processos geológicos, geomorfológicos que têm lugar na atualidade, dentro do propósito deste conceito.
Com uma proposta integradora, Kozlowski (2004) define a Geodiversidade como a “variedade natural da superfície terrestre, envolvendo os seus aspectos geológicos e geomorfológicos, solos, águas superficiais, bem como todos os demais sistemas resultantes de processos naturais (endógenos e exógenos) ou antrópicos”.
Em 2006, o Serviço Geológico do Brasil – CPRM lançou o “Mapa Geodiversidade Brasil”, em escala 1:2.500.000 (CPRM, 2006), onde define Geodiversidade como sendo: “natureza abiótica (meio físico) constituída por uma variedade de ambientes, fenômenos e processos geológicos que dão origem às paisagens, rochas, minerais, solos, águas, fósseis e outros depósitos superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como valores intrínsecos a cultura, o estético, o económico, o científico, o educativo e o turístico.”
Mais recentemente, Bruschi (2007) define Geodiversidade como: “a diversidade de ambientes geológicos que constitui a base e o substrato para a biodiversidade e os ecossistemas”.
Dentre as definições mais amplamente utilizadas, versando a respeito da geodiversidade, destaca-se a proposta de Sharples (2002) que, num trabalho clássico sobre conceitos e princípios da geoconservação, define este termo como a “gama (ou diversidade) de arranjos, processos e sistemas geológicos (substrato), geomorfológicos (geoformas) e pedológicos, dotados de valores intrínsecos, ecológicos e antropocêntricos”.
Por outro lado, com uma abordagem mais abrangente, Nieto (2001), num trabalho onde faz uma revisão sobre os diversos conceitos existentes para geodiversidade, propõe uma definição mais ampla para o termo, destacando que, a consideração conjunta entre biodiversidade e geodiversidade constitui um primeiro passo para a caracterização completa da diversidade natural e aplicação da filosofia do desenvolvimento sustentável. Desta forma, este autor sugere a seguinte definição: “A Geodiversidade consiste no número e variedade de estruturas (sedimentares, tectónicas, geomorfológicas, hidrogeológicas e petrológicas) e de materiais geológicos (minerais, rochas, fósseis e solos), que constituem o substrato físico e natural de uma região, sobre o qual se assenta a atividade orgânica, incluindo-se a antrópica.”

 Fonte: http://www.google.pt/imgres

Stanley (2004) discute como as diversas manifestações da geodiversidade condicionaram a localização geográfica das cidades ao redor do mundo e um conjunto particular de aspetos culturais na Inglaterra. Erikstad & Bakkestuen (2004) ressaltam que a Geodiversidade desempenha um papel relevante no condicionamento da diversidade de ecossistemas de um determinado local, bem como no regime de aporte de nutrientes, condições hidrológicas, etc. Desta forma, pode-se estabelecer conexões diretas entre a diversidade de um determinado terreno e sua geodiversidade e/ou biodiversidade.
Com respeito à conservação da geodiversidade, Piacente (2003) destaca que, historicamente, a cultura ocidental sempre teve dificuldades em reconhecer que a diversidade, seja ela biodiversidade ou geodiversidade, é uma manifestação distintiva da natureza, de modo que desenvolvemos uma mentalidade de padronização dos meios e processos, substituindo a heterogeneidade pela homogeneização. De acordo com esta autora, apenas nas últimas décadas do século XX, se regista uma reversão nesta tendência. Diante das discussões e definições acima apresentadas, observa-se que, muitas delas, ressaltam o valor funcional da geodiversidade como o substrato físico da biodiversidade e das atividades humanas.

Em relação à discussão que envolve a proposição de valores para a geodiversidade, Sharples (2002) propõe três categorias de valores: intrínseco, patrimonial e ecológico.
Por sua vez, Gray (2004) propõe seis categorias de valores, as quais são apresentadas e pormenorizadas na tabela abaixo

Valores da Geodiversidade, adaptados a partir de Gray(2004)

Fonte: Gray (2004)

                                                                                (cont)
Referências:

Brilha, J. (2005) Patrimônio Geológico e Geoconservação: A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage Editores, Viseu

Bruschi, V. M. (2007) Desarrollo de una metodología para la caracterización, evaluación y gestión de los recursos de la geodiversidad. Tesis Doctoral- Universidad de Cantabria. Santander-España. 263 p.

Dixon, G., Sharples, C., Houshold, I., Pemberton, M., & Eberhard, R. (1997) Conservation Management Guidelines for Geodiversity, (1997). Unpublished Report to the Tasmanian Regional Forest Agreement Environment and Heritage Technical Committee, 70 p.

Gray, M. (2004) Geodiversity: Valuing and Conserving Abiotic Nature. John Wiley and Sons, Chichester – England.

Gray, M. (2008) Geodiversity: the origin and evolution of a paradigm. In: Burek, C.V. & Prosser, C.D. (eds) The history of Geoconservation. The Geological Society, London, Special Publications, 300, p. 31-36.

Piacente S. (2003) Geodiversity and geosites: the value of "Locus". in Proceedings of the Workshop Geomorphological Sites: Assessment and mapping. V. Panizza (Ed), Dipartamento di Scienze della Terra, Università degli Studi di Cagliari, Itália, 82 p.


Nieto L.M. (2001) Geodiversidad: propuesta de una definición integradora. Boletín Geológico y Minero- España , Vol. 112, Nº 2, p. 3-12.

Stanley M. (2004) Geodiversity - linking people, landscapes and their culture. In: Natural and Cultural Landscapes - The Geological Foundation, M.A. Parkes (Ed.), Royal Irish Academy, Dublin, Ireland, p. 47-52.

Serviço Geológico do Brasil- CPRM & Companhia Baiana de Pesquisa Mineral- CBPM (2003) Sistema de Informações Geográficas: Geologia e Recursos Minerais do Estado da Bahia. Mapas nas escalas 1:1.000.000 e 1:2.000.000. Edição atualizada e ampliada, Maio/2003. Salvador/BA- Brasil.







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