Geodiversidade e seus Valores
Lauter Big na Jura da Suábia (Deutschland)
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Segundo
Brilha (2005), a aplicação do conceito
de geodiversidade é um fato relativamente recente. Gray (2008) aponta que
este termo evoluiu a partir da Convenção da Biodiversidade, documento extraído na
RIO-92, uma vez que, para muitos geocientistas, existia uma equivalência na
diversidade de formas e elementos do meio físico do planeta Terra. Alguns
autores (Gray, 2004; Burek & Potter, 2002) sugerem que este conceito surgiu
em 1993, por ocasião da Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e
Paisagística e mencionam a definição proposta pela Royal Society for Nature
Conservations do Reino Unido como uma das mais completas e elucidativas
definições para o termo em questão: “A Geodiversidade
consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos, que dão origem
às paisagens, rochas, minerais, fósseis e solos, que são o suporte para a vida
na Terra.”
Johansson
et al. (1999) definem a Geodiversidade como sendo a diversidade de rochas,
depósitos, formas de terreno e processos geológicos que formam as paisagens.
Esta pode ser considerada como uma expressão de diferentes ambientes geológicos
(vulcânicos, glaciares, fluviais, litorais, etc.) e dos diferentes ramos das ciências
geológicas, servindo de substrato à biodiversidade.
Dixon et
al. (1997) e Eberhard (1997) definem Geodiversidade como a diversidade de
elementos geológicos, geomorfológicos e edáficos que evidenciam a história da
Terra, sugerindo a inclusão dos processos paleobiológicos ou paleoambientais,
bem como os processos geológicos, geomorfológicos que têm lugar na atualidade,
dentro do propósito deste conceito.
Com uma
proposta integradora, Kozlowski (2004) define a Geodiversidade como a “variedade natural da superfície terrestre,
envolvendo os seus aspectos geológicos e geomorfológicos, solos, águas
superficiais, bem como todos os demais sistemas resultantes de processos
naturais (endógenos e exógenos) ou antrópicos”.
Em 2006,
o Serviço Geológico do Brasil – CPRM lançou o “Mapa Geodiversidade Brasil”, em
escala 1:2.500.000 (CPRM, 2006), onde define Geodiversidade como sendo: “natureza abiótica (meio físico) constituída
por uma variedade de ambientes, fenômenos e processos geológicos que dão origem
às paisagens, rochas, minerais, solos, águas, fósseis e outros depósitos
superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como
valores intrínsecos a cultura, o estético, o económico, o científico, o
educativo e o turístico.”
Mais
recentemente, Bruschi (2007) define Geodiversidade como: “a diversidade de ambientes geológicos que constitui a base e o
substrato para a biodiversidade e os ecossistemas”.
Dentre as
definições mais amplamente utilizadas, versando a respeito da geodiversidade,
destaca-se a proposta de Sharples (2002) que, num trabalho clássico sobre conceitos
e princípios da geoconservação, define este termo como a “gama (ou diversidade) de arranjos, processos e sistemas geológicos
(substrato), geomorfológicos (geoformas) e pedológicos, dotados de valores
intrínsecos, ecológicos e antropocêntricos”.
Por outro
lado, com uma abordagem mais abrangente, Nieto (2001), num trabalho onde faz
uma revisão sobre os diversos conceitos existentes para geodiversidade, propõe
uma definição mais ampla para o termo, destacando que, a consideração conjunta
entre biodiversidade e geodiversidade constitui um primeiro passo para a
caracterização completa da diversidade natural e aplicação da filosofia do desenvolvimento
sustentável. Desta forma, este autor sugere a seguinte definição: “A Geodiversidade consiste no número e
variedade de estruturas (sedimentares, tectónicas, geomorfológicas,
hidrogeológicas e petrológicas) e de materiais geológicos (minerais, rochas,
fósseis e solos), que constituem o substrato físico e natural de uma região,
sobre o qual se assenta a atividade orgânica, incluindo-se a antrópica.”
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Stanley
(2004) discute como as diversas manifestações da geodiversidade condicionaram a
localização geográfica das cidades ao redor do mundo e um conjunto particular
de aspetos culturais na Inglaterra. Erikstad & Bakkestuen (2004) ressaltam
que a Geodiversidade desempenha um papel relevante no condicionamento da
diversidade de ecossistemas de um determinado local, bem como no regime de
aporte de nutrientes, condições hidrológicas, etc. Desta forma, pode-se
estabelecer conexões diretas entre a diversidade de um determinado terreno e
sua geodiversidade e/ou biodiversidade.
Com
respeito à conservação da geodiversidade, Piacente (2003) destaca que,
historicamente, a cultura ocidental sempre teve dificuldades em reconhecer que
a diversidade, seja ela biodiversidade ou geodiversidade, é uma manifestação
distintiva da natureza, de modo que desenvolvemos uma mentalidade de padronização
dos meios e processos, substituindo a heterogeneidade pela homogeneização. De
acordo com esta autora, apenas nas últimas décadas do século XX, se regista uma
reversão nesta tendência. Diante das discussões e definições acima apresentadas,
observa-se que, muitas delas, ressaltam o valor funcional da geodiversidade
como o substrato físico da biodiversidade e das atividades humanas.
Em
relação à discussão que envolve a proposição de valores para a geodiversidade, Sharples (2002) propõe três
categorias de valores: intrínseco, patrimonial e ecológico.
Por sua
vez, Gray (2004) propõe seis categorias de valores, as quais são apresentadas e
pormenorizadas na tabela abaixo
Valores da Geodiversidade, adaptados a partir de Gray(2004)
Fonte: Gray (2004)
(cont)
Referências:
Brilha, J. (2005) Patrimônio Geológico e Geoconservação: A Conservação
da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage Editores, Viseu
Bruschi, V. M. (2007) Desarrollo de una metodología para la caracterización,
evaluación y gestión de los recursos de la geodiversidad. Tesis Doctoral- Universidad de Cantabria. Santander-España. 263 p.
Dixon, G., Sharples,
C., Houshold, I., Pemberton, M., & Eberhard, R. (1997) Conservation
Management Guidelines for Geodiversity, (1997).
Unpublished Report to the Tasmanian Regional Forest Agreement Environment
and Heritage Technical Committee, 70 p.
Gray, M. (2004) Geodiversity:
Valuing and Conserving Abiotic Nature. John Wiley and Sons, Chichester
– England.
Gray, M. (2008) Geodiversity:
the origin and evolution of a paradigm. In: Burek, C.V. &
Prosser, C.D. (eds) The history of Geoconservation. The Geological Society,
London, Special Publications, 300, p. 31-36.
Piacente S. (2003) Geodiversity
and geosites: the value of "Locus". in Proceedings of the
Workshop Geomorphological Sites: Assessment and mapping. V. Panizza (Ed), Dipartamento di Scienze della Terra,
Università degli Studi di Cagliari, Itália, 82 p.
Nieto L.M. (2001) Geodiversidad: propuesta de una definición integradora.
Boletín Geológico y Minero- España , Vol.
112, Nº 2, p. 3-12.
Stanley M. (2004) Geodiversity
- linking people, landscapes and their culture. In: Natural and Cultural Landscapes
- The Geological Foundation, M.A. Parkes (Ed.), Royal Irish Academy, Dublin,
Ireland, p. 47-52.
Serviço Geológico do Brasil- CPRM & Companhia
Baiana de Pesquisa Mineral- CBPM (2003) Sistema de Informações Geográficas: Geologia e Recursos Minerais do Estado
da Bahia. Mapas nas escalas
1:1.000.000 e 1:2.000.000. Edição atualizada e ampliada, Maio/2003. Salvador/BA- Brasil.
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